Aprender a Apreender: Reflexões sobre o Ensino da Fotografia e da Educação Visual
- Sala de Fotografia
- 15 de out. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de out. de 2024

A tarefa de ser professor de fotografia é, em sua essência, uma jornada de aprendizado constante. Ao ingressar nesse campo, somos confrontados com a urgência de expandir a educação visual, que tradicionalmente se restringe à leitura e à escrita, mas falha em incluir a leitura e a interpretação de imagens. Este desafio nos convoca a refletir sobre o poder da fotografia e seu potencial criativo, bem como as inúmeras possibilidades que ela oferece para ler e entender o mundo.
No universo contemporâneo, onde a imagem permeia nosso cotidiano de maneira avassaladora, a educação visual se torna um imperativo. A filósofa e educadora visual Rosalind Krauss argumenta que “a arte contemporânea não pode ser compreendida sem uma apreciação da visualidade que a rodeia” (Krauss, 1986). Este reconhecimento nos leva a pensar sobre como podemos cultivar uma consciência crítica em nossos alunos, para que eles não apenas consumam imagens, mas também as analisem e as criem com intenção.
A fotografia é um meio poderoso de comunicação que transcende palavras. John Berger, em Modos de Ver, nos lembra que “ver vem antes de pensar” (Berger, 1972). Essa afirmação destaca a importância da percepção visual como uma forma primária de interação com o mundo. No entanto, a educação formal frequentemente negligencia essa dimensão, focando na alfabetização tradicional e relegando a educação visual a um segundo plano.
A construção da identidade e da memória também se entrelaça com a prática fotográfica. Susan Sontag, em Sobre a Fotografia, afirma que “as fotografias são um convite à reflexão sobre a nossa condição humana” (Sontag, 1977). Cada imagem carrega consigo não apenas a realidade do momento capturado, mas também as histórias e as identidades que a cercam. Ao ensinar fotografia, proporcionamos aos alunos ferramentas para explorar e expressar suas próprias narrativas, conectando-se com suas histórias pessoais e culturais.
Além disso, a educadora visual Elizabeth T. C. M. Yau sugere que “o ato de fotografar é uma maneira de ser no mundo, de estabelecer relações e de compreender a complexidade da vida” (Yau, 2021). Essa abordagem enfatiza que a fotografia não é apenas uma técnica, mas uma prática que envolve engajamento crítico e emocional. Ao desenvolver essa consciência, encorajamos nossos alunos a ver a fotografia como uma forma de explorar não apenas o mundo exterior, mas também o interior.
A criação de imagens é uma prática que dialoga com nossa memória, nossa história e nossa cultura. A pedagoga e teórica da arte, Amelia Jones, argumenta que “a imagem é um meio de construir e contestar identidades, promovendo uma reflexão sobre a diferença e a subjetividade” (Jones, 2012). Nesse sentido, ensinar fotografia é também ensinar os alunos a confrontar e a questionar suas próprias identidades e a de outros, a partir de uma perspectiva visual.
Recentemente, a pesquisadora e fotógrafa Jo Spence, em sua obra sobre a autobiografia visual, salienta que “a fotografia é um meio de se auto-representar e reescrever a própria história” (Spence, 2020). Essa afirmação ecoa a necessidade de criar um espaço educacional onde os alunos possam explorar suas vivências e emoções através da fotografia, promovendo um processo de autodescoberta e empoderamento.
Assim, a jornada de aprender a apreender no ensino de fotografia é também uma jornada de construção de significados. Ao promover uma educação visual que valorize a leitura crítica das imagens, capacitamos nossos alunos a interpretar o mundo ao seu redor, a refletir sobre suas experiências e a criar suas próprias narrativas visuais. Essa prática não só enriquece a experiência educacional, mas também contribui para o desenvolvimento de uma consciência crítica e criativa, fundamental em um mundo cada vez mais visual.
Ser professor de fotografia é, portanto, uma convocação a abrir os olhos e os corações dos alunos para a riqueza do mundo visual. É um convite para que eles se tornem não apenas consumidores, mas também criadores conscientes de imagens. Ao integrar as perspectivas de pensadores da educação visual e da fotografia, construímos um caminho que não apenas celebra a arte da imagem, mas também reconhece seu poder transformador na formação de identidades e na compreensão do mundo.
Referências
BERGER, John. Modos de Ver. Editora Perspectiva, 1972.
JONES, Amelia. Seeing Differently: A History and Theory of Identification and the Visual Arts. Routledge, 2012.
KRAUSS, Rosalind. A Voyage on the North Sea: Art in the Age of the Post-Medium Condition. Thames & Hudson, 1999.
SONTAG, Susan. Sobre a Fotografia. Editora Companhia das Letras, 1977.
SPENCE, Jo. Putting Myself in the Picture: A Political, Personal and Photographic Autobiography. 2020.
YAU, Elizabeth T. C. M. Teaching Visual Culture: Curriculum, Aesthetics, and the Politics of Representation. Routledge, 2021.
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